O documentário "Juntos" foi produzido em 2012 como tarefa da disciplina "Sociologia do Trabalho", ministrada por mim na UNESP-Campus de Marília. Foi lançado em 11 de dezembro de 2012. A produção foi dos alunos Jonas Rangel de Almeida, Marina Graziela Barbim e Thiaago Vicente Caiado. Eles fizeram a filmagem e eu fiz a edição do video. A parti de 2013 passei a incluir como trabalho final da disciplina Sociologia do Trabalho, o registro audiovisual da condição de proletariedade.
No video "Juntos", registrei o depoimento de 3 trabalhadores técnico-administrativos da FFC/Unesp-Marília que relatam suas experiências do trabalho (história de vida/história do trabalho): Adão Francisco dos Santos, vigilante; Lúcia Rodrigues TRindade Garcia, secretária do Departamento de Sociologia e Antropologia; Silvio Aparecido Maran, supervisor do setor de zeladoria e vigilancia.
A fala singela dos sujeitos ue trabalham diz muita coisa sobre eles e o mundo em que vivem. Adão, o vigilante, tem seus sonhos: aposentar-se e "investir na área do humor". Tornar-se funcionário da UNESP foi para Adão, uma forma de ascensão social. Antes - na década de 1970 - Adão trabalhava como empregado numa padaria, provavelmente ganhando o salário-mínimo. Ao entrar para a UNESP, elevou-se acima da imensa camada da população submetida a formas precárias de emprego.
Adão diz que sempre teve "veia humoristica". O humor é a forma dele lidar com o mundo. Aposentar-se e ser humorista, fazendo os outros rir, é seu sonho. Adão tem um linguajar empresarial. É proletário mas fala o léxico do captal. Ele quer ser trabalhador por conta própria. invertir, Incorpora no discurso a positividade da ordem: é importante trabalhar em equipe, com humor, alegria.
Lúcia, fez psicologia. Relata o cotidiano de uma secretária departamental. Reclama do peso da burocracia e da quantidade de planilhas que precisa preencher...É dela que sai a voz da luta pelos direitos, da necessidade de lutar JUNTOS. O título do docimentário expressa a necessidade da consciencia contingente de classe, tão importante no seio do aparelho do Estado cujo lógica de controle é "dividir para dominar". Funcionários da burocracia do Estado vivem no mundo da Fragmentação e do Corporatvsmo. O maior desafio é Juntar-se para reivindicar salários e melhores condições de trabalho.
Silvio é supervisor, tendo, portanto, um cargo comissionado. Tal como em Adão, percebemos na fala de Silvio, o léxico empresarial no discurso: não fala em trabalhadores, mas em "colaboradores". Fala em "parceria"... Pelo visto, eles souberam aproveitar bem os cursos de treinamento da UNESP. É o exemplo da colonização da linguagem pela ótica do capital. É a expressão da hegemonia burguesa no Brasil.
Para Silvio, o emprego na UNESP é uma benção: ser um servidor público significa ter um emprego formal, um salário fixo que lhe permite ter acesso a crédito, comprar um carro, um imóvel...No País da "Casa Grande e Senzala" é uma conquista civilizatória. O mundo de Silvio é o "melhor dos mundos" possíveis. Entretanto, da fala de Silvio, de repente, surge uma queixa: é preciso contratar mais funcionãrios. Mesmo imerso no doce fetichismo salarial, existe "aqui e ali", fagulhas da "alienação" e da "insatisfação"...Falta apenas uma organização que integre as demandas reprimidas para uma vida plena de sentido. .
Comments